domingo, 28 de junho de 2009

Vida moderna & mundo virtual



A era virtual chegou. Cada vez mais tenho menos coisas em minhas mãos. Tudo fácil, rápido e digital.

Fotografias só na tela do computador. Não envelhecem, não perdem o brilho, não cheiram ao passado. O passado agora é digital.

Cartas? Todas com a mesma caligrafia 'Arial'. Cartões de carinho? Clique no link e cheire o perfume dos bits.

Disco arranhado? Nunca mais. Diferentes do vinil, arquivos mp3 só tem um lado.

Amores internéticos. Sexo virtual. Leituras rápidas. Fofocas à velocidade da luz.

Tudo rápido, na velocidade dos bits.

E o ser humano cada vez mais parecido com bits: voláteis como nunca.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Inquieto

Inquieto, penso nos livros que ainda não li. Nas palavras que ainda não aprendi. Nas poesias que ainda não comi.

Inquieto, penso nas músicas que nunca cantei. Nos acordes que nunca toquei.

Inquieto, procuro teu nome na minha caixa de emails.

Inquieto, olho para o chão enquanto caminho pra não tropeçar nas formigas.

Inquieto, vasculho o céu a procura de nuvens. Pássaros que voam.

Inquieto, sinto sede da tua boca.

Inquieto, troco os canais da TV sem prestar atenção a nada.

Inquieto, estalo os dedos como se isso fosse aliviar a saudade.

Inquieto, olho tua fotografia e então, finalmente, me acalmo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Vozes e acordes


Baixo o tom do meu acorde pra que ele não abafe meu pensamento. Microfonia existencial?

Escuto a voz que de dentro de mim não sai. Um grito surdo de desabafo.

Meus pensamentos têm voz própria, conversam entre eles como se estivessem numa mesa de bar. Fico apenas a observar, sentado, do balcão. Devo escuta-los? Leva-los a sério?

A incessante rádio mental sintonizada como se eu estivesse numa ante-sala de consultório médico. Sem chances de trocar de estação, sem chances de baixar o volume.

Ainda sou um dicso de vinil, preciso me virar pra me escutar por completo.

Agora entendo porque Caetano canta: "Quero que tudo saia, como um som de Tim Maia"

domingo, 14 de junho de 2009

Incongruência

Desconexo das coisas da vida, penso em ti com a naturalidade de um pássaro que se alimenta. Tomas meu pensamento pelos cantos, aos poucos, como se fosse a dona dele.

E a distância me força a recordar a textura da tua pele e a sentir saudades do futuro.

Teus olhos escondidos atrás dos teus óculos me questionam. Meus olhos escondidos atrás dos meus óculos respondem aos teus: a paixão por ti é inerente ao meu ser.

Tragas teu cigarro com a calma e o furor da tua paixão. Como se a cada tragada um sopro de vida entrasse nos teus pulmões. Incongruente, te sentes viva ao fumar.

Incongruente, tua inquietação se transforma em calma quando deitas. Teu gemido quieto se transforma em gozo trêmulo.

Incongruente, minha paixão por ti grita dentro de mim, um grito calmo e ansioso. Um grito de saudades e alívio. Um grito de pele ardente e paz.

Que posso eu querer de ti além dos teus pés junto aos meus?