terça-feira, 24 de março de 2009

Ausência


Pelos últimos anos da minha vida tenho-me feito ausente. Viagens e viagens. E eu ausente.

E minha ausência na vida dos outros acabou virando ausência na minha própria vida. Ausento-me de mim mesmo. Perco-me de mim mesmo em meio a travesseiros inodoros de hotéis insossos.

E alguns me perguntam: isso é vida? Como você consegue?

E eu me pergunto: fujo do que?

Talvez essa seja a maneira oficial de eu fugir de mim mesmo. Levar meus pensamentos e devaneios pra longe de todos. Não me ver refletido no olhar daqueles que me amam.

Talvez minhas ausências sejam muito longas. Talvez minha própria ausência já tomou meu lugar, usa meus chinelos e esquenta meu travesseiro, comanda a TV com o controle remoto.

Mas a ausência tem um lado bom: a chegada.

Quanto mais curta a viagem, mas deliciosa é a chegada: a ausência ainda não tomou o teu lugar no sofá. A ausência ainda não virou costume na vida dos outros.

E em cada volta pra casa, há algo que me enternece: a alegria da chegada daqueles que são recebidos por alguém. Eu os invejo, uma inveja boa, mas uma inveja. As flores perfumando, os cartazes gritando em letras vermelhas borradas, os balões sorrindo e as pessoas se emocionando.

Nas minhas viagens o pior momento nunca foi a partida, nem a ausência, sempre foi a chegada: costumava perguntar ao taxista como havia sido o tempo durante a semana para distrair minha tristeza pela flores que não me receberam.

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